Quando penso que já vi de tudo nestes meus 20 anos de idas e
vindas no “buzão”, hoje me surpreendo com uma cena que superou todas até então.
Cena que pela primeira vez na vida me fez manifestar também, pois a gente
sempre se acovarda e fica vendo as injustiças acontecerem como se fosse coisas
normais do nosso dia a dia... (é grande, mas é real e vale a pena)
Desta vez eu estava no metrô. E do meu lado, no acento
preferencial tinha um idoso e um jovem NEGRO de uns 16 anos.
Confesso que não percebi que uma senhora tinha entrado e
depois de alguns instantes, um homem que estava em pé começou a brigar com
menino que não deu lugar para a dona:
- “Você não tem pai e mãe para lhe dar educação? O que você
pensa que é?”
O menino só olhou para a dona e perguntou:
_ “Quer sentar tia?”
Ela agradeceu e disse que não e o menino olhou para o homem
e falou:
- “Tá vendo tio? Me deixa de boa aqui!”
O homem enfurecido começou um sermão:
- “Eu não culpo você, culpo a sociedade que só cria
bandidos, homossexuais, estupradores e drogados, ensina coisas erradas e é cada
dia menos cristã. No mínimo você não deve ter pai e mãe para te ensinarem o que
é certo e errado. Por isso vira bandido, gay (???), estuprador....”
O menino respondeu:
- “Sou bandido não tio! Estou roubando alguém aqui? Ela não
quis sentar, fica na sua que é melhor!”
O Homem continuou:
- “Tá vendo? Vocês jovens não respeitam mais ninguém, só
aprendem o errado na televisão. (ai se virou para todos os passageiros) A culpa
é da sociedade, estamos pagando a aposentadoria dos presidentes que não fazem
nada. Enquanto isso, este é o tipo de jovem que vai se formando: ladrões,
homossexuais, drogados, estupradores...
Neste momento, levantou do assento de frente “um negão” de
dois metros, deu sua mochila para o menino segurar e o metrô inteiro se calou.
Ele disse ao homem:
-“Meu senhor, tem meia hora que estou escutando o senhor
falar asneiras. Dizer que é culpa da sociedade e dos pais que este menino não
tem. Pois, te digo, eu sou pai deste menino e só estava observando até onde o
senhor ia chegar”. (o vagão inteiro se virou para os dois, na expectativa de
uma briga ou como se estivessem assistindo uma cena de novela).
O pai continuou:
- “Eu ensino sim ao meu filho o que é certo e errado, mas de
fato não é fácil criar um adolescente nos dias de hoje. Você, com certeza não é
pai, para dizer tanta besteira como disse agora”.
O homem que neste momento já devia ter borrado as calças,
começou a se contradizer e gaguejar:
-“Sou pai sim, a culpa não é nossa e nem deles. Mas da
sociedade que só cria bandidos, homossexuais, drogados, estupradores...” (esta
frase repetida já estava me deixando nos nervos).
O pai continuou:
-“Crio sim ele e mais duas moças, sem a presença da mãe. O
senhor não sabe o que é ser pai e mãe nos dias de hoje. Sou cristão sim, mas de
estopim curto. Dou um boi para não entrar na briga, mas dou uma boiada para não
sair dela e você não imagina como estou tremendo agora e afim de quebrar a sua
cara.”
As fisionomias de espanto de todos os passageiros diziam e
torciam: “é agora, pelo menos uma bofetada!”
Mas o pai foi além:
-“Abre ai filho, no segundo bolso da mochila e pega a minha
arma!”
Nessa hora eu me “caguei”, afinal estava do lado. E o metrô
inteiro se pasmou.
O menino abriu a mochila e tirou nada mais nada menos do que
uma bíblia.
Chorei! De alivio e emoção.
O pai disse:
- “Esta é minha arma, e se não fosse ela realmente eu não
daria conta de criar meus 3 filhos sozinho” (neste momento ele já estava sendo
ovacionado por todos).
O Homem sabichão não tinha onde enfiar a cara, mas mesmo
assim ainda continuou o seu discurso ignorante:
-“O senhor está certo, é muito difícil ser pai nos dias de
hoje. A culpa não é sua, nem do menino, mas da sociedade que só cria bandidos,
homossexuais, drogados, estupradores...”
Neste momento eu me levantei:
Coloquei a mão no ombro do pai e disse:
-“Que Deus lhe abençoe, o senhor está de parabéns!”
Virei-me para o outro homem e disse:
-“Cuidado com o que você diz por ai, preconceito é crime e o
senhor pode ser preso!”
A fúria dele se virou contra mim, mas já estava chegando à
minha estação.
Ele disse que eu poderia chamar a policia, que ele ama os
homossexuais, mas abomina o homossexualismo (oi? Alguém traduz esta frase?)
Eu desci, não rendi! Estava emocionada com a atitude do pai
e tremendo de nervoso por conta do homem.
O menino errou sim em sentar no lugar preferencial. Mas, me
referi ao preconceito no geral. Tenho certeza que se fosse uma mocinha loira,
de olhos azuis ou um simples adulto ele não iria agir de tal forma.
O menino era negro, e para a sociedade ser negro é (como na
repetida frase do homem) ser bandido, homossexual, drogado, estuprador.
Na teoria não tem pai, mãe ou educação.
A culpa é da sociedade sim!
Que cria pessoas como este homem que não tem respeito pelo
negro ou pelo homossexual.
O menino errou, mas este homem se superou e este tipo de
gente me enoja.
Mas o pai nos deu uma tapa de luvas na cara.
Ele sim calou a sociedade e nos mostrou que apesar de tudo,
de quase perdermos as esperanças ao ver atitudes como a do tal homem, não
podemos desistir dos nossos filhos.
Sem mais...
*Rúbia Lisboa
Nenhum comentário:
Postar um comentário