Eu e minhas observações da vida
como ela é...
Hoje duas cenas simultâneas no
metrô me chamaram atenção.
A primeira foi protagonizada por
uma avó e sua netinha. Linda! Aparentava uns seis aninhos, loirinha de
cachinhos, olhos claros, porém um pouquinho acima do peso. Chegou a ser
engraçado: a avó falou para ela sentar em seu colo quando o metrô ficasse cheio
e a menina respondeu que não, pois, a avó sempre fala que ela está pesada.
Depois disso, a menina pediu colo, e de fato a avó respondeu que ela estava
muito pesada.
Cena do Filme Pequena Miss Sunshine |
A menininha ficou inconsolável:
-“Tá vendo? Você sempre fala
isso! Você quer que eu assente no seu colo ou você acha que eu estou pesada?
Você vai me deixar sentar um pouquinho?”
A avó respondeu que somente nas
horas certas, como por exemplo, quando o metrô estava cheio.
E a menina chateada, ficou
pedindo colo o tempo todo:
-“Mas só um pouquinho, você que
pediu primeiro para eu sentar no seu colo..”
A avó retrucou:
- “E você não quis sentar!”
A menina tinha uma resposta para
tudo:
- “Não sentei porque você sempre
fala que estou pesada, mas agora eu quero!”
E por fim a avó disse que não,
pois elas já iam descer.
E a carinha de tristeza da menina
por não ter conseguido o colinho da avó ou por se sentir pesada, foi de partir o coração.
Ao mesmo tempo, uma moça jovem
loira, bonita, brigava com o cabeleireiro por telefone, pois seu mega hair estava caindo. E que ele ia
ter que refazer tudo hoje ainda porque ela estava com uma viagem marcada.
Ela passava a mão no cabelo e os
fios soltavam:
-“Cabelo é muito caro, você vai
ter que apertar tudo de novo. Vou viajar! Nem fiz escova e está caindo deste
jeito! Olha aqui para você ver! Estou guardando no meu bolso para te mostrar
quando chegar ai!”
Foi minha vez de descer e não vi
o desfecho da história.
Mas o que me chamou a atenção foi
o fato de como realmente as pessoas são alucinadas por questões que envolvem a
aparência e como isso recentemente está no centro dos holofotes em atos de
racismo e preconceitos, inclusive no mundo dos esportes e nas redes sociais.
Começamos a nos preocupar com a
nossa aparência ainda na infância, como vi a menininha hoje, e nos tornamos
adultos desesperados por questões ligadas à estética ou padrões de beleza que a
sociedade julga adequados. No caso do Brasil; miss, modelo e mulherão.
Eu tenho a minha neura com meu
corpo e estou tentando sair dela principalmente para não influenciar a Iasmin e
ensiná-la que ela deve ser feliz e se achar bonita do jeitinho que ela é. Mas
não é fácil! Prestes a completar 30 anos e com uma filha de 5 meses, ser
comparada com um adolescente de 15 me tira do sério.
Muitas mulheres adorariam isso.
Mas, já passei por várias ocasiões de preconceito ou bullying por parecer “novinha de mais”.
Também usei mega hair por quase
oito anos e confesso, ainda sinto muita falta do “meu” cabelo longo com cachos
perfeitos inspirados na atriz Tais Araújo.
Mas estou seguindo firme na minha decisão de ser natural, por mais que
eu ainda viva à base de escovas e pranchas. Tirei o mega justamente para não
confundir negativamente a minha filha, que ao ter o seu cabelo todo “crespinho”, iria questionar a mãe com um cabelo como os das atrizes de novelas e ela não.
Quando eu era criança, ter cabelo
crespo era bem pior. Que menina negra não sonhava com cabelos lisos e longos?
Mas hoje já melhorou muito e o cabelo black ou afro estão com tudo, mas ainda
sim são alvos de muito preconceito.
Uma pesquisadora mostrou recentemente
que crianças já têm atitudes racistas a partir dos três anos de idade.
Príncipes e princesas de contos de fadas, em sua maioria de pele branca, são
apenas uma pequena amostra de como o universo infantil está carregado pelo
racismo.
Fiquei muito feliz ao ler em uma
matéria no jornal dizendo que a Broadway terá a sua primeira Cinderela negra, a
atriz e cantora Keke Palmer e em saber que a Miss Minas Gerais 2014 é a menina
negra, de família simples que venceu o preconceito, superou as expectativas e conquistou
o título mais almejado entre as beldades do estado, com possibilidades de ser a
mais bonita do Brasil (Karen Porfiro).
Karen Porfiro - Miss Minas Gerais 2014 |
Isso é maravilhoso para quebrar
os paradigmas da beleza!
O que não podemos é deixar que
esses padrões confundam as mentes das crianças. Criança já é bonita pelo fato
de ser criança! Não podemos permitir que os padrões neuróticos e estressantes
dos adultos deturpem a mente e juventude dos pequenos.
Não podemos querer que nossos
filhos sejam aquilo que não são e neste caso vejo vários pais quase que obrigando suas “crias”
a entrem para o mundo da fama, usarem roupas e comportarem-se como adultos
deixando de curti a melhor fase da vida que é a infância.
Certa vez fotografei uma prima
minha para a mãe mandar as fotos para um concurso da Xuxa. Após ter as fotos
reveladas ela rasgou todas. Minha tia ficou uma fera, mas hoje entendo que era
a minha prima que tinha que querer participar do concurso e não a mãe.
A menininha do metrô hoje sem
sombra de dúvidas sofre pelo fato da avó chamá-la de “pesada”. A moça do
cabelo, tal como eu (na época que usava o mega) quer se sentir mais bonita, mas
o fato de usarmos os nossos cabelos naturais não vai nos deixar mais feias.
Não importa o que as indústrias
da moda, da beleza, do consumo e os meios de comunicações nos impõem ou nos
vendem, pois cada pessoa tem uma beleza única, e deve ser aceita como é. Se
cuidar e ser vaidosa faz parte da natureza, principalmente feminina, mas não
devemos chegar ao ponto de nos escravizar por isso. Afinal, envelhecer é nosso
destino, viver feliz e com dignidade deve ser nossa meta.
E é isso que temos que ensinar à
nossas crianças. Que tudo tem o seu tempo e seus limites. Que existe roupa de
criança e roupa de adulto, que não há problema algum em ser mais gordinha ou “Olivia
Palito” (como eu) desde que a saúde esteja em ordem. Que não há necessidade de
se comprar um cabelo na loja pois, podemos ter estilo e ser bonitas com o
cabelo que nascemos. E que principalmente, crescendo assim, saberemos respeitar
o próximo, as diferenças e não cometer atos de ofensa e desprezo ao outro, pois
no final das contas, somos todos iguais.
*Rúbia Lisboa
Fontes: Estadão; Jornal Hoje em Dia; Portal da Moda Infantil;
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