A filha de um senhor muito querido e conhecido na região
faleceu após dar a luz ao seu primeiro filho.
Lembro-me do meu curso de casais grávidos onde foi frisada a
queda nos números da morte materna. Mas, quando acontece bem pertinho da gente,
a tristeza, o susto e o choque nos fazem ficar pensando a respeito e na dor
desta família.
Pesquisando sobre o assunto a tragédia da mortalidade
materna vem atingindo menos mães a cada ano no Brasil, mas o ritmo de queda ainda não é suficiente para que o país alcance até o fim do ano o Objetivo de
Desenvolvimento do Milênio (ODM) neste quesito.
A altíssima taxa de cesáreas, o excesso de intervenções
desnecessárias, a falta de treinamento de equipes especializadas e a proibição
do aborto (polêmico) são alguns dos fatores apontados como barreiras para que o
risco diminua mais no país.
De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil tem hoje 62
casos a cada 100 mil nascimentos. A meta estabelecida até o fim deste ano pela
ODM, da ONU, era chegar a uma taxa de 35 mortes por 100 mil nascimentos.
Lembrando que Segundo dados da Organização Mundial de Saúde
(OMS), a mortalidade materna é a morte feminina ocorrida no período da gestação
ou até 42 dias após o parto, não importando a duração ou a localização da
gravidez, morte causada ou agravada pela gravidez. Ainda de acordo com a OMS, a
morte materna tardia é aquela ocasionada ou agravada pela gravidez, que pode
acontecer num período superior a 42 dias após o parto e inferior a um ano após
o parto.
No caso desta moça em especial, a gravidez era de risco e
ela teve a hemorragia pós-parto. Caracterizada pela perda de grandes
quantidades de sangue imediatamente após o parto. Ela é a maior causa de morte
de mães após o trabalho de parto, devido à possibilidade de levar ao estado de
choque e, posteriormente, à morte.
Esta hemorragia ocorre logo após a saída da placenta, devido
ao fato do útero não contrair-se espontaneamente, podendo levar à morte. Também
pode ocorrer até o primeiro mês depois do parto, casos tenham ficado vestígios
da placenta ainda colada ao útero, no entanto, este último não se configura
como um sangramento que coloca a vida da mãe em risco de morte.
Quando existe uma perda de sangue abundante, ou seja, maior
que 500 ml, é necessária uma transfusão de sangue para que o coração, pulmão,
cérebro e rins não sejam afetados pela falta de sangue e, consequentemente, de
oxigênio (foi o caso dela).
No meu parto a obstetra informou que eu tive perda de sangue
e aplicou duas injeções (uma em cada coxa) usadas para ajudar a prevenir e
controlar o sangramento após o parto.
Não podemos fazer comparações, mas, eu não tinha noção do
que se tratava e só agora estou me dando conta da seriedade do assunto. Por
isso quanto mais debatemos sobre o tema e difundirmos as informações
necessárias mais estaremos contribuindo para diminuir estes números.
Se as mortes maternas também estão diretamente relacionadas
à deficiência da qualidade dos serviços de saúde oferecidos às mulheres,
reduzi-las é um desafio que deve envolver governos, serviços
e profissionais de saúde e toda a sociedade. Para enfrentar esse desafio, o
antigo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, lançou no dia 8 de
março de 2004 o Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal.
A meta do Pacto era reduzir em 15% os índices de mortalidade materna e neonatal
(de recém-nascidos) até o fim de 2006, e em 75%, até 2015. (Será que está
funcionando?).
Em maio não temos somente o Dia das Mães, mas também o Dia
Internacional de Ação pela Saúde da Mulher e Dia Nacional pela Redução da
Mortalidade Materna (28 de maio). Instituído no IV Encontro Internacional
Mulher e Saúde (Holanda) e em 1988, foi iniciada, também no dia 28, a Campanha
de Prevenção da Mortalidade Materna, coordenada pela Rede Mundial de Mulheres
pelos Direitos Reprodutivos e pela Rede de Saúde das Mulheres Latino-Americanas
e Caribenhas, com expressivo envolvimento da Rede Feminista de Saúde, do
Brasil.
Então que façamos do mês que se inicia amanhã, um mês de
reflexão sobre o assunto. Que nos coloquemos no lugar desta família, deste pai,
do bebê que crescerá sem a mãe. Que briguemos pelo parto normal e por nossos
direitos. Que denunciemos a Violência Obstétrica (quando for o caso) e exijamos
politicas públicas mais eficazes no combate desta lamentável estatística.
Estatística não! Não podemos tratar como apenas mais uma em
100 mil. Uma fatalidade, um caso ao acaso. Trata-se de uma vida que se foi.
Interrompida no momento mais sonhado e desejado de uma mulher. Que se une a
todas as outras para não deixarmos o assunto ao descaso e esquecimento.
Por fim, que neste momento de dor, Deus dê a esta família o
conforto e discernimento para criar a nova vida que chegou (...)
Fontes:
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